Dólar salta acima de R$5,19 com pessimismo renovado sobre Fed; Ibovespa hesita

O dólar reverteu perdas iniciais e passou a subir acentuadamente nesta segunda-feira, chegando a superar os 5,19 reais em meio a novos temores sobre a política monetária do Federal Reserve, com os mercados também de olho nas tensões crescentes no Oriente Médio.

Ao mesmo tempo, as taxas dos principais contratos de DI disparavam, enquanto o Ibovespa não mostrava uma direção clara, apesar do dia mais positivo para os índices acionários norte-americanos.

O humor do mercado azedou depois que dados mostraram alta bem mais intensa do que o esperado nas vendas no varejo dos Estados Unidos em março, mais uma evidência de que a economia encerrou o primeiro trimestre em terreno sólido.

As vendas no varejo norte-americano aumentaram 0,7% no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam avanço de 0,3%.

Enquanto isso, investidores buscavam controlar as preocupações depois de ataque do Irã a Israel, que envolveu mais de 300 mísseis e drones e foi a primeira investida contra Israel por outro país em mais de três décadas.

No Brasil, o governo encaminhará ao Congresso nesta segunda-feira o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, com projeções para o resultado primário das contas do governo central em 2025 e à frente.

Veja como estavam os principais mercados financeiros por volta das 14h desta segunda-feira:

CÂMBIO

O dólar reverteu perdas iniciais e passou a subir acentuadamente nesta segunda-feira, chegando a superar os 5,19 reais em meio a novos temores sobre a política monetária do Federal Reserve, com os mercados também de olho nas tensões crescentes no Oriente Médio.

A divisa norte-americana reverteu as perdas iniciais — que operadores haviam associado a movimento de realização de lucros após salto na semana passada — depois que dados mostraram alta bem mais intensa do que o esperado nas vendas no varejo dos Estados Unidos em março, mais uma evidência de que a economia encerrou o primeiro trimestre em terreno sólido.

As vendas no varejo norte-americano aumentaram 0,7% no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam avanço de 0,3%.

"Tempestade perfeita hoje; o mercado está abandonando a ideia de um corte de juros nos EUA no curto prazo, e essa preocupação com a trajetória penaliza todos os emergentes", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

Quanto menos o Fed cortar os juros, melhor para o dólar, que se torna mais atraente para investidores estrangeiros quando os rendimentos oferecidos pelo mercado norte-americano — já interessante por ser extremamente seguro — seguem mais altos.

Os rendimentos dos Treasuries de dez anos, referência global para investimentos, saltaram nesta manhã para picos desde novembro do ano passado após os dados norte-americanos.

"Os mercados emergentes estão sendo atingidos de forma geral, incluindo o Brasil. Vale lembrar que 90% do que acontece com o real brasileiro não tem nada a ver com o Brasil. Estamos em outro susto de inflação nos EUA, que está elevando os rendimentos dos EUA", escreveu Robin Brooks, fellow sênior da Brookings Institution.

Segundo ele, que costuma destacar a balança comercial forte do Brasil e por isso defende que o real está em patamares bem aquém de seu valor justo, o Brasil segue sendo opção de investimento "incrível" apesar dos obstáculos externos.

Enquanto isso, investidores buscavam controlar as preocupações depois de ataque do Irã a Israel, que envolveu mais de 300 mísseis e drones e foi a primeira investida contra Israel por outro país em mais de três décadas.

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, disse que eventual retaliação de Israel "poderá gerar forte aumento dos preços do petróleo, pressão sobre a taxa de inflação nos Estados Unidos, fuga generalizada de investidores para o dólar, valorização da moeda americana e, na mais otimista das hipóteses, adiamento do início do processo de queda dos juros (nos EUA) ou, até mesmo, aumento e não de queda das taxas de juros".

Por enquanto, investidores encontravam algum alívio nos esforços das principais potências mundiais para esfriar as tensões no Oriente Médio e evitar uma escalada desastrosa dos conflitos na região, o que limitava o impacto dos riscos geopolíticos nos ativos de risco.

"Acho que a questão geopolítica pesa um pouco, naturalmente, mas isso tende a ser algo efêmero, não deve sustentar tanta cautela no meu ponto de vista", disse Bergallo, da FB Capital.

Na última sessão, a moeda norte-americana à vista (BRBY) avançou 0,60%, a 5,1213 reais na venda, seu maior patamar de encerramento desde 9 de outubro de 2023 (5,1315).

. Dólar/Real (BRBY): +1,26%, a 5,1856 reais na venda;

. Euro/Dólar EURUSD: -0,06%, a 1,0636 dólar;

. Dólar/Cesta de moedas DXY: +0,14%, a 106,110.

IBOVESPA

O Ibovespa não mostrava uma direção clara nesta segunda-feira, apesar do dia mais positivo para os índices acionários norte-americanos, com baixa do petróleo no exterior e incertezas quanto ao momento do primeiro corte de juros nos Estados Unidos.

Segundo o analista Renato Nobile, da Buena Vista Capital, as vendas no varejo dos EUA acima do esperado sinalizam um início não tão precoce na redução da taxa de juros pelo Federal Reserve, o que impacta na bolsa brasileira.

Na visão do analista, os dados de varejo de março "praticamente descartam" uma queda de juros já em junho.

Em Wall Street, os principais índices acionários abriram em alta, corrigindo uma forte liquidação da sexta-feira passada.

Para Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, o petróleo caindo, mas a bolsa subindo, passam uma mensagem de que o mercado entrou no fim de semana com muito "prêmio de risco", ou seja, já prevendo o pior que não aconteceu.

"Os próximos passos do mercado virão da probabilidade de Israel responder ao ataque do Irã. Nos próximos dias, investidores colocarão uma lupa nisso em vez de dados macroeconômicos ou vindo dos bancos centrais", afirmou Saadia.

DESTAQUES

- VALE ON VALE3 subia, uma vez que os preços futuros do minério de ferro fecharam em alta, sustentados por uma evidente redução nos embarques e pela esperança de que a China lance mais estímulos para apoiar sua economia. O contrato de setembro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian TIO1! avançou 2,18%, a 845,5 iuanes (116,80 dólares) a tonelada.

- PETROBRAS ON PETR3 avançava, apesar do declínio dos preços do petróleo no exterior.

- ITAÚ UNIBANCO PN ITUB3 tinha alta, enquanto BRADESCO PN BBDC3 caía.

- BRF ON (BRF3.SA) saltava após Goldman Sachs e JPMorgan elevarem a recomendação para a ação para, respectivamente, "neutra" e "overweight". Analistas do Goldman citaram estrutura de capital e desempenho operacional melhorados da processadora de alimentos. MINERVA ON BEEF3, por outro lado, caía.

- AZUL PN AZUL recuava, dando sequência ao seu quarto dia seguido de queda e após uma forte liquidação na sexta-feira.

- MOVIDA ON MOVI3, que não faz parte do Ibovespa, subia. A companhia anunciou na noite de sexta-feira suas projeções para 2024. Analistas do BTG Pactual disseram que a formalização desses objetivos "enfatiza a dedicação da empresa em alcançá-los". "Embora o quarto trimestre tenha sido altamente volátil, acreditamos que isso permitiu à Movida limpar seus resultados para retornar à lucratividade em 2024", afirmaram.

. Ibovespa IBOV: -0,16%, a 125.746,75 pontos;

. Volume financeiro: R$12,48 bi

. Índice dos principais ADRs brasileiros (.BR20): -0,82%, a 18.893,37 pontos.

BOLSAS DOS EUA

Os principais índices acionários de Wall Street subiam nesta segunda-feira, depois de uma liquidação contundente na sessão anterior devido aos resultados decepcionantes de alguns grandes bancos dos Estados Unidos, enquanto a escalada das tensões no Oriente Médio deixava os investidores cautelosos.

Todos os três principais índices caíram mais de 1% na sexta-feira, registrando perdas semanais.

O presidente norte-americano, Joe Biden, alertou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de que os Estados Unidos não participariam de uma contraofensiva contra o Irã --uma opção que o gabinete de guerra de Netanyahu favorece após um ataque em massa de drones e mísseis em território israelense--, de acordo com autoridades familiarizadas com o assunto.

O Irã lançou o ataque após um suposto ataque israelense ao complexo de sua embaixada na Síria em 1º de abril, que matou os principais comandantes da Guarda Revolucionária. No entanto, o ataque do Irã, lançado com mais de 300 mísseis e drones, causou apenas danos modestos em Israel.

Ações de defesa como Lockheed Martin LMT, General Dynamics GD e RTX Corp RTX ganhavam entre 1,1% e 1,5%.

Em relação aos balanços, o Goldman Sachs GS ganhava 5,1% depois que seu lucro do primeiro trimestre superou as estimativas de Wall Street, uma vez que sua unidade de banco de investimento se saiu bem, ajudando-o a registrar o maior lucro por ação desde 2021.

A ação elevava o setor financeiro SPF em 1,5%, ajudando-o a liderar os ganhos setoriais.

Enquanto isso, as vendas no varejo dos EUA aumentaram 0,7% em março, em comparação com um aumento de 0,3% estimado por economistas consultados pela Reuters.

"Certamente estamos em um momento desta semana em que os dados econômicos, em grande parte, ficarão em segundo plano em relação aos relatórios de balanços", disse Art Hogan, estrategista-chefe de mercado da B Riley Wealth.

"Mas, no que diz respeito às vendas no varejo, boas notícias são boas notícias. Estamos no ponto em que melhores notícias em termos de crescimento econômico certamente serão positivas para os mercados agora."

As ações dos EUA foram vendidas com força recentemente, pois os investidores reajustaram drasticamente suas expectativas de quanto o Fed cortará os juros este ano. Operadores precificam apenas 39 pontos-base em cortes este ano, de acordo com dados do LSEG, abaixo dos cerca de 150 pontos-base esperados no início do ano.

. Dow Jones DJI: +0,04%, a 37.999,73 pontos;

. Standard & Poor's 500 SPX: -0,17%, a 5.114,79 pontos;

. Nasdaq IXIC: -0,51%, a 16.092,71 pontos.

BOLSAS DA EUROPA

O índice pan-europeu STOXX 600 SXXP fechou em alta de 0,13%, a 505,93 pontos.

Em LONDRES, o índice Financial Times UK100 recuou 0,38%, a 7.965,53 pontos.

Em FRANKFURT, o índice DAX DAX subiu 0,54%, a 18.026,58 pontos.

Em PARIS, o índice CAC-40 PX1 ganhou 0,43%, a 8.045,11 pontos.

Em MILÃO, o índice Ftse/Mib FTSEMIB teve valorização de 0,56%, a 33.954,28 pontos.

Em MADRI, o índice Ibex-35 IBC registrou alta de 0,01%, a 10.687,20 pontos.

Em LISBOA, o índice PSI20 PPSI20 desvalorizou-se 1,08%, a 6.268,88 pontos.

JURO

DÍVIDA

Os rendimentos dos Treasuries de 10 anos atingiram o nível mais alto desde novembro nesta segunda-feira, após dados de vendas no varejo norte-americano mais fortes do que o esperado sugerirem que o Federal Reserve pode adiar os cortes de juros este ano.

A leitura mostrando que as vendas no varejo subiram 0,7% no mês passado nos EUA, mais do que o dobro do 0,3% esperado por economistas ouvidos em pesquisa da Reuters, vieram após dados na semana passada terem mostrado uma inflação mais persistente do que esperado pelo mercado.

Os mercados futuros estão agora precificando 41 pontos-base em cortes nos juros até o final de dezembro, abaixo dos mais de 160 pontos esperados no início do ano.

"A narrativa do mercado mudou para a ideia de 'Como pode o Fed realmente cortar quando a economia está tão forte?'", disse Charlier Ripley, estrategista sênior de investimentos da Allianz Investment Management.

Os rendimentos já tinham subido no início da sessão devido a preocupações de que as cadeias de abastecimento iriam desacelerar e os preços da energia subiriam após o ataque de drones e mísseis do Irã a Israel no sábado.

"A escalada do conflito no Oriente Médio contribuiu ainda mais para a angústia inflacionária que está definindo o mercado de juros dos EUA no momento", disse Ian Lyngen, chefe de estratégia de juros dos EUA na BMO Capital Markets.

Comentários do presidente do Federal Reserve de Nova Iorque, John Williams, feitos em entrevista à Bloomberg TV na manhã de segunda-feira de que a inflação não está num ponto de virada e que ainda prevê cortes nas taxas este ano, ajudavam a limitar as vendas.

. Treasuries de 10 anos US10Y: rendimento em alta a 4,6343%, ante 4,499% no pregão anterior;

PETRÓLEO

. Nymex - CL1!: -1,28%, a 84,56 dólares por barril;

. ICE Futures Europe - Brent BRN1!: -1,28%, a 89,29 dólares por barril.